Então, voltando à sexta, encontramos o chefe do Lars e esposa na frente do SAS Hotel. Na entrada do salão já começam servindo o glog, bebida típica de Natal, que é mesmo umvinho quente com umas epseciarias diferentes das que usamos no Brasil. Passamos para a nossa mesa, eainda bem, chegamos cedo,antes do animais chegaram. Em tempo, explico... Nessas confraternizações, as pessoas chutam o pau da barraca, enfiam o pé e a cara toda na jaca, enchem o caneco, e eventualmente fazem ou dizem coisas das quais poderão se arrepender amargamente nos dias - ou anos - seguintes.
Nesses jantares, os pratos típicos natalinos são servidos. Começamos pelo buffet frio, com frios e embutidos típicos daqui (perna de carneiro curada, o
fenalår, presuntos, salames de alce, etc) e peixes (salmão defumado e
gravlax) e frutos do mar (camarões, lagostins, mexilhões e até lagosta, certamente importada de algum lugar, porque aqui no Norte da Noruega não tem lagosta não). Chefe já pediu logo uma garrafa de vinho. Com a comida quente, vieram cervejas para os rapazes, e shots de aquavit... Aiaiai, pensei! No buffet quente,
pinekjøtt, lutefisk e
ribbe. O tal de
ribbe era o único que anda não havia experimentado. Trata-se de uma capa da costela do porco, - com bastante gordura envolvida - e por cima de tudo eles fazem um pururuca, a casquinha fica bem crocante. Serve-se tudo isso obviamente com batatas cozidas, purê de aipo-rábano, purê de ervilhas verdes e repolho roxo azedo, tipo
sauerkraut.
E nessa altura as mesas todas do enorme salão do SAS estavam cheias, muito barulho, muita comilança. Depois de um aquavit, meu norueguês era praticamente fluente! É que aí eu perco a vergonha de cometer erros e falo pelos cotovelos. O chefe do Lars estava felissíssimo, pois a primeira vez que saímos pra jantar com ele, não conseguimos trocar uma palavra...
Depois de uma garrafa de vinho, alguns shots de aquavit e muitos, muitos pratos de comida, fomos para o bar do hotel, onde uma bandinha tocava uma musiquinha ao vivo. E aí é o momento engraçado, pois eu e Lars temos um prazer enorme em praticar o tal do
peoplewatch, ou observação de gente, em bom português... Tipo ver o sujeito desesperado chegando em todas as mulheres do local e levando um fora atrás do outro, até achar outra desesperada, finalmente. Ou da senhora com cara de recatada, depois de umas biritas dançar feito louca sozinha na cadeira, ou ainda de pescar com o canto do olho uma outra senhora dar aquela ajeitada na roupa de baixo, sabe como é?
E todos com roupas formais, vestidos e ternos, mas com atitudes totalmente informais, depois da biritada. E nós biritamos também. Até que lá pelas tantas a esposa do chefe do Lars - muito agradável por sinal - pediu água (ou arrego, como dizem no Brasil!). Como ela não estava bebendo porque estava dirigindo, deve ser mesmo um saco estar cercada de bebuns por todos os lados. E logo após, eu e Lars resolvemos ir pra outro lugar, pois ali estava ficando um pouco deprimente, a selvageria já havia invadido as pessoas de vez. A cada vez que Lars saía pra fumar, chegava um animal pra me cantar. Como eu disse, eles vão de uma em uma rodando pelo salão...
Então fomos pra um outro bar na cidade, ouvimos uma musiquinha mais animada, mas estávamos cansados - e o Lars, de fogo! - e fomos embora, lá pelas duas da manhã. Sábado a minha ressaca não foi tão feia quanto a do Lars, porque os noruegueses tem uma mania... Misturam tudo. Eu fiquei na mesma bebida a noite toda... Além disso, eu sempre tomo 2 aspirinas antes de deitar...
Mas enfim, foi bem divertido. Semana que vem é a vez da Julebord do meu hotel, mas como eu trabalho cedo no sábado, acho que vou comer como o pessoal e depois sumir, antes que a coisa comece a esquentar...
E chegou a época do ano de fazer uma retrospectiva. Ano passado fiz um
post-retrospectiva. Esse ano não pretendo fazer um, pois basta ler meus próprios posts, já que o blog ficou muito mais ativo... Mas tenho parado pra pensar em como - e quando - mudar as coisas que me incomodam. Por exemplo, o trabalho. Esse emprego já rendeu o que tinha que render, eu me sinto exausta diariamente, e não tenho energia - veja bem, eu não disse tempo, e sim energia - praf azer mais nada, quanto menos estudar. Sem contar minha coluna, que está cada dia pior. Foi o primeiro emprego que consegui, sou eternamente grata à eles por terem me dado a oportunidade, mas chegou a hora de mudar.
E aí entra o
catch 22 da coisa... Sem falar bem o norueguês, será difícil achar outro trabalho. E sem ir à escola, levará mais tempo pra aprender, apesar de eu ter uma facilidade imensa com idiomas... Sim, porque eu abandonei a escola. Primeiro, porque na semana em que trabalho de manhã, quase caía de sono na aula. E na semana em que trabalho apenas 3 noites, segunda-feira era meu único dia de folga, e ainda assim tinha que ir pra escola. Então, acabou que fui apenas 4 semanas, resolvi parar. Foi fraqueza minha, ou talvez falta de motivação. Porque, pelas minhas contas, pra cumprir as 300 horas obrigatórias pra todo imigrante, frequentando a escola por 3 horas por semana, ia levar uns 2 anos pra eu completar as malditas horas... Assim, com apoio do Lars, parei. Fui conversar com a diretora, devolvi os livros, e recebi informação de que em janeiro as inscrições pra novas turmas abririam caso eu resolvesse voltar.
E, nessas últimas semanas, conversando com Lars, sobre arrumar outro emprego, e da dificuldade de fazê-lo sem falar bem a língua, achamos por bem que é hora de parar de trabalhar e começar a ir pra escola em período integral, liquidar essas horas e tirar esse problema da minha frente de uma vez por todas.
Inclusive porque, se eu continuar trabalhando sempre em período integral, uma dia eu precisarei parar de trabalhar pra estudar, cedo ou tarde. Então, melhor fazê-lo agora, que o trabalho é apenas um quebra-galho. Não quero ficar anos da minha vida fritando ovo, afinal de contas... Além disso, se quisermos comprar uma casa maior, com os dois trabalhando é bem mais fácil, então, temos que esperar até que eu tenha um emprego mais estável, digamos assim.
Então, essa semana vou conversar com minha chefe e ver se diminuímos minha carga horária, e eu passo a ser extra ao invés de tempo integral. Ou seja, ela me chama quando alguém fica doente, tira férias, quando o hotel está lotado, coisas assim. Assim eu ainda arrumo um troquinho pra poder ajudar o Lars. Se a chefe disser não, então vou pedir as contas de vez, e arrumar uns bicos... Sem esquecer meus alunos de português, que retomo agora em janeiro, e que me perguntaram se eu tenho interesse em pegar mais alunos.
Assim, terei tempo pra me dedicar aos estudos, procurar um trabalho com mais calma, me relacionar socialmente com mais gente, e assim por diante, aumentando as chances de ter um trabalho mais satisfatório. Mas foi interessante começar a trabalhar cedo, pra quebrar o mito de que imigrantes que não falam norueguês não conseguem trabalho...
Além disso, temos projetos de fazer arrumações na casa... Transformar o quarto de hóspedes num escritório - assim terei um canto pra estudar sem a televisão por perto, e também poderei dar aulas em casa. E o plano é de fazê-lo comprando o mínimo de coisas novas possível. Vamos à loja da Cruz-Vermelha procurar mesa, as cortinas já conseguimos... Acho que só um sofá-cama será necessário...
E por último, quero fazer ainda mais pelo nosso planetinha. Tenho estudado a possibilidade de reutilizar a água da máquina de lavar roupa. Em primeira instância, pra lavar as embalagens recicláveis - e assim não precisar usar água limpa pra exaguar caixas de leite, latas, vidros,etc. Estamos revendo ainda mais nossos hábitos de consumo, e tentando gastar cada vez menos energia elétrica. Isso pra manter nossa pegada de carbono baixa...
No próximo ano também não vou comprar peixe no supermercado, e sim diretamente no barco do pescador que há 40 anos vende peixe no pier, e no mercado de peixe. Pefiro pagar um tiquinho mais, pra eles, do que pagar menos e dar lucro apenas pra cadeia de supermercado. Nosso consumo de carne de vaca é baixo - comemos bastante alce - e vai diminuir ainda mais. No verão pretendemos pescar mais e colher mais frutinhas silvestres, abundantes nas florestas.
Estamos - e no futuro, pretendemos diminuir ainda mais - usando o aquecimento elétrico cada vez menos. Compramos cobertores térmicos (tecidos tecnológicos) e assim não usamos aquecimento no quarto. Na sala, é só a lareira mesmo. O aquecimento do banheiro, aumentamos antes do banho, e diminuímos depois.
E ainda estou pesquisando por aqui uma entidade pra voluntariado. Seria basicamante entre a Cruz Vermelha e o abrigo de animais. Agora que terei mais energia, e então mais tempo, quero fazer algo nesse sentido. Sem contar que qualquer atividade social ajuda a melhorar a fluência da língua.
E, de vez em quando, vou reler este post pra ver se estou conseguindo fazer tudo o que planejei!
Por último, deixo uma fotinho... O sol terminando de nascer - ou começando a se pôr? -ao meio-dia, o céu rosa Hello Kitty e a lua linda brilhando... Isso foi sexta-feira... Até que esta suposta escuridão não é tão má assim!
Ah, esqueci de contar... Terça-feira fomos tomar a vacina pra gripe suína. Meu braço ficou dolorido uns dois dias e eu fiquei resfriada e zureta nas 24 horas após a vacina. Mas eu vi homem feito - não o Lars, tadinho, que odeia médico e injeção, mas se portou muito bem e não teve nada depois - cair duro no chão...