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quinta-feira, setembro 09, 2004

Últimos dias argentinos....

Nestas alturas deveria já ter terminado de escrever o diário sobre a viagem a Argentina, mas depois de um mês, os detalhes pequenos se foram... Então, resumindo, na quinta-feira, fiz um tour pela região de Luján de Cuyo, no estado de Mendoza. É a area vitivinicultora argentina de onde saem os melhores Malbec argentinos. A guia que me levou (chamada Eugenia) além de muito gente boa, sabia muito de vinho.

Ela me pegou às 8 da manha no albergue, e saímos em direção à vinícola Família Zucardi (produtora dos vinhos Santa Julia, entre outros). Super moderna, produção em larga escala, tecnologia... Visita de meia horinha, depois fomos provar os vinhos. Era muito cedo, e ainda tinhamos 5 vinícolas pela frente, assim que provávamos e cuspíamos, profissionalmente! De lá, ela me levou a Faculdade de Enologia Dom Bosco, a mais antiga da Argentina. Uma maravilha. Tudo meio artesanal, mas vi uma classe de alunos e tudo mais. Vimos o enólogo fazendo testes com barris de carvalho francês com ondulações diferentes (muito complicado)... Foi show. Provamos uns 10 vinhos - cuspindo!

E a[i veio a hora do almoço. Ela me levou num lugar chamado Finca La Adalgisa, um hotelzinho com um vinhedo de Malbec de 2 ha. A matriarca da família cuida do vinhedo, tem um cavalo (UM) que trabalha no vinhedo... A família colhe as uvas e faz o vinho, com uvas prensadas mecanicamente numa prensa antiga de madeira. O vinho é fermentado em piletas de concreto que ainda nem tinham sido cobertas com tinta epóxi. Depois de pronto, o vinho é engarrafado, não envelhece em carvalho. E foi o vinho mais educativo que provei - para ver o que é um Malbec sem traços de carvalho. Além de fresco e delicioso. Durante o almoço (vejam as fotos) tomei mais de meia garrafa! E enquanto eu comia saladas, queijos, pães caseiros e pêssego em compota com doce de leite (tudo feito lá), a Eugenia buscava um casal que contunuaria o tour conosco.

(acima, faculdade de Enologia; ao lado, almoco na La Adalgisa)


Quando ela veio me buscar, o casal era brasileiro. Luiz Henrique e Carla. Então fomos à Catena Zapata, a maior produtora de vinhos argentinos de qualidade. Chegamos atrasados, e claro, no nosso grupo tinha um brasileiro vovô (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) mala pra caramba, que fez a gente passar um monte de vergonha com seus comentarios ridículos. Depois de visitar as instalações monumentais, fomos provar os vinhos. Pedimos mil desculpas a guia da Catena pelos brasileiros mala.

(Catena Zapata, a Opus One argentina; Alta Vista; eu, Luiz e o proprio Carmello ao fundo)










De lá, fomos para a Alta Vista, mas chegamos tarde pra visitar a bodega, então passamos direto a prova de vinhos.... E de lá, a Carmello Patti, um senhor muito simpatico que possui uma bodega boutique - faz vinhos com muito amor, e em pouca quantidade.

Terminei o tour às 7 da noite, bebum e com fome. Ja não tinha forças, mas ainda assim tomei um banhão e saí caminhando até um restaurantezinho próximo, comi algo simples e corri de volta pra cama. No dia seguinte, sexta-feira, tinha combinado com o Luiz Henrique e a Carla de irmos na Bodegas Escorihuela, onde esta ubicado o restaurante de Francis Mallman, o chef argentino mais famoso, que inclusive esteve pelo Brasil, no A Figueira Rubayat.

Então na sexta, ao meio dia eles passaram pra me pegar. Chegamos um pouquinho cedo, mas fomos direto pro restaurante. Muito bonito, modernoso. A comida foi excelente, dos aperitivos\vinhos de entrada a uma salada morna de centolas (aqueles caranguejos gigantes que parecem aranhas). Depois uma pratada de risotto (super bem cozido) de cogumelos frescos e secos, tudo isso regado a duas garrafas de vinho. Malbec Obra Prima, of course... Não sobrou espaço pra sobremesa.


(restaurante Francis Malman)


De lá saímos para o tour pela bodega com - adivinhem.... Uma casal de brasileiros... A bodega era linda, os caras são super profissionais, e depois no final, mais vinho.

(linha de engarrafamento, Bodegas Escorihuela)








Na volta fiquei pelo centro, fazendo umas comprinhas. No finzinho da tarde, quando estava já escurinho, tomei um chocolate quente com media-lunas. E de lá pro albergue, onde teria um churrasco à noite. Minha última noite.... Então tomei um banho e cochilei uma siesta, depois desci pro churrasco. Só tinha alpinista no albergue, assim que eu estava totalmente fora do meu elemento. Conheci vários caras que são guias de montanha, e de tours pra Patagônia. Um pessoal bem interessante.

E no dia seguinte saí cedinho pra o aeroporto de Mendoza. Às 8 da manha, na Curitiba argentina, me roubaram minha bagagem de mão.... Com todos os meus cremes, perfumes, relógio, brincos, cabos da maquina digital, e 1000 dólares. Eu ficaria ainda um dia em Buenos Aires, mas assim que cheguei no aeroporto eu mudei a passagem e voltei pra casa no sábado mesmo.... Acabou bem mal a viagem tão boa, mas os momentos prazerosos foram tantos que não vou deixar algo assim estragar minhas memórias....

And now back to the ship.....

quarta-feira, setembro 08, 2004

Que Miércoles!!!!!!!!

Bueno, hoy dia és miércoles...

Depois do pileque de ontem, dormi até acordar, sabe? Até mais tarde um pouco. Lá pelas 10 e pouco sai para telefonar, confirmando o tour com a garota da Vino y Aventura, uma agência especializada em levar "conoisseurs" para conecer vinhedos e vinícolas, sem blá-blá, com guias que entendem de vinhos. Então fui num Internet café (hé milhões deles, tanto em Buenos Aires como aqui em Mendoza, e a hora da Internet custa 1 peso, ou seja, 1 real) para descarregar o memory card de minha câmara num CD. Levou 2 horas, o cara disse que sabia fazer, mas enrolou, enrolou...

De lá fui cambiar plata numa casa de câmbio. Já tinha andado um bocado, a fome estava apertada, e lembrei da guia Carolina, de ontem, quando havia perguntado a ela qual seria uma muy típica refeição mendocina. E ela me disse "Chivito assado, muy rico". Me deu o nome duma rua onde há vários restaurantes que servem. O tal chivito é um cabritinho assado inteiro, mas o bichinho é bem novinho...

Então andei um bocado, cheguei na tal Calle Sarmiento, e tinha uma churrascaria (perdon, parrilla) atrás da outra. Entrei numa que me agradou, Don Tristan - segundo referências posteriores, acertei em cheio! Tinha um bufezinho de salada. Pedi o tal chivito, veio um prato imenso, e olhando eu achei que não ia dar conta. Mas, vixe, como o bichinho era bom... Carne bem macia, rosadinha, com aquele sabor especial de madeira... Pra acompanhar, como dizem os mozos (garçons) : "Vinito?" "Por supesto...". Tomei um Trapiche Malbec 2004, super jovem e fresco, ainda que um pouco ácido. Mas casou perfeito com o chivito.

Depois do almoço, aquela leseira desgraçada... Andei umas 8 quadras até o supermercado, onde comprei uma garrafa de água mineral, outra de vinho (Santa Julia Bonarda 2003), e voltei pro albergue. Como tirei o dia para descansar, fiz uma siesta, depois acordei, tomei banho e desci, pra tomar meu vinho e fazer um pouco de lição de casa - sim!, estudar, fazer anotações sobre os vinhos que andei provando e as coisas que aprendi sobre eles.

Depois de 2 tacinhas, fui me trocar (mais roupa de frio, pois tava um pusta dum frio) e fui jantar na mesma Calle Sarmiento, num restaurante chamado Azafran, que se intitula "almacen de esquicitices y vinos". Era um bistrozinho moderno com loja de vinho anexa. Sabia que o local era uma referência regional, então, lá fui... Era bem em frente ao Don Tristan.

Entrei solita. Os mendozinos, assim como os portenhos, não dão muita pelota pra gente que sai pra comer sozinha. Mas o que eu podia fazer? O lugar estava lotado, mas tinha uma mesa legal, para quatro, e uma mínima. Adivinha qual eu ganhei? Claro, atrás de um movel, não via nada. Mas como estava para comer e tomar um big vino qualquer, tanto fazia.

O cardápio, de pôr qualquer um que aprecia a boa comida louco. De frutos do mar a cervos patagônicos, o que fazer? Pedi um sorrentino de cervo patagônico defumado com ricota, e molho de hongos (funghi) selvagens. Puts, como comi hongos na Argentina até agora!!! Para beber, um Alamos Bonarda 2001, que me tinha sido recomendado pelo dono do La Tasca de la Plaza Espana (aquele bistrozinho espanhol, lembra?), e tambem pra comparar com o Santa Julia que tinha comprado à tarde.

A senhorita simpatica que me servia trouxe uma magnifica cestinha de pães caseiros, e serviu o vinho. E eu fiz firula, não por metidice, mas para realmente apreciar o vinho. Ao meu lado, tinha uma mesa com dois senhores. E eles ficavam olhando pro meu vinho. E pra minha cara. E eu rodava o copo e metia o nariz dentro do copo, e eles me olhando. O vinho era ESPETACULAR. Muito diferente do que eu estava acostumada... Logo chegou meu prato.

Quando acabei, o vovô (EU E OS VOVÔS!!!!!!!!!) da mesa ao lado se virou e finalmente me perguntou que vinho era aquele. Lhe respondi, e ele, todo cerimonioso, disse "você entende de vinhos?", e eu, sem pompa "Sou sommelier". E ele "Ah... Eu bem desconfiei quando vi você não só provando como tomando seu vinho. E ele está bom?" E eu "Excelente. Quer provar?" A garconete lhes serviu 2 taças de meu vinho, e els me ofereceram um prova do vinho deles. Mas logo antes de eu provar, me disseram "Perdoe-nos, mas seu vinho é bem melhor que o nosso!". E assim engatamos uma conversa antes e durante a sobremesa (a minha era mil folhas com ricota fresca de cabra e frutos regionais). Depois do jantar, cada um pagou sua conta e eles se despediram, deixando seus enderecos de Buenos Aires, caso eu quisesse companhia para tomar vinho durante minha última noite lá...

E assim levantei e caminhei novamente aquelas 10 quadras de volta ao albergue, isso la pelas 12 da noite. Nestas alturas eu já tinha me acostumado, já nem olhava para trás pra ver se havia algum movimento suspeito.

E fui dormir empanturrada novamente, mas feliz!

terça-feira, setembro 07, 2004

Destino: Aconcagua

Bom, o recepcionista me acordou 6 horas da manhã. O tempo estava horrível, chovia. Mas me alegrei, pois devia estar nevando na montanha ao menos pra eu poder ver os picos nevados, como nas fotos de Mendoza. Uma outra garota do albergue tambem ia. Era portenha (de Buenos Aires pra quem não sabe).

Classicamante o microbus parou, e a guia nos veio buscar: "Hola, soy Carolina. Mucho gusto...". Subimos no bus e ja tinha um casal de vovôs e um casal jovem. Ainda passamos em outro albergue pra buscar mais um casal, e por último num hotem, outro casal. E só agora me dei conta que eu e Gabi (a portenha) eramos as únicas avulsas!

E a guia começa a falar de futebol (Má ideia, eu pensei). As janelas do microbus já estavam embaçadas, fazia um senhor frio lá fora... E o papo de futebol seguia. Cada um tinha que dizer o nome, de onde era e pra que time torcia. E assim descubro que o último casal, sentadinho ao meu lado, era carioca! Fluminense, acho... Dai logo veio a minha vez, eu disse que não achava uma boa idéia falar de futebol quando há argentinos e brasileiros presentes. O povo riu, e os brasileiros começaram a conversar comigo. Gente muito fina! Não eram daqueles brazucas que fazem a gente passar vergonha lá fora.

Bom, conforme fomos indo em direção às montanhas o tempo ia melhorando. Não sol, mas a chuva estava parando. E a guia explicou que a Cordilheira era dividida em três partes: pré-cordilheira, depois cordilheira frontal, e por fim a Cordilheira. A moça era bem informada e preocupada em passar informação. Na primeira parada colheu plantinhas e explicou todas. Depois falou dos animais que habitam a região (inclusive o condor, animal ameacadíssimo!). Se tivessemos sorte, íamos ver alguns...

Paramos num lugar onde tinha uma ponte bem rústica sobre um riozinho. Ela nos fez tomar água do riozinho, só pra poder fazer piadinhas depois (até que bom senso de humor). Por esta ponte passou o General San Martin, libertador da República Argentina. A estrada seguia o rio Mendoza e a estrada de ferro. E adivinha quem avistou o primeiro condor do dia??? Euzinha, olhava algo lá no céu, e vi um pontão preto. Olha o condor lá... Virei heroína. E viva a Caiman! E fomos embora. Então, paramos num hotel no meio do nada pra pegar mais um casal. Um lugar lindo, mas frio.... Já se podia ver um pouco de neve no alto das montanhas. Passamos por um povoado onde ficou hospedado o Brad Pitt quando das filamgens de "7 anos no Tibet". Raaaaah, pensavam que tinha sido filmado no Tibet? Que nada! Uspallata é o nome do lugar. O Brad é um herói lá!!!! E paramos num local pra tomar um café (que caiu super bem) e alugar sapatos de neve. Eu, porque estava muito da entretida com meu café e um imenso cão perdigueiro, não ouvi a guia falando dos sapatos. Depois eu vi o povo com eles. Perguntei a vovó do bus (como se eu não tivesse ainda aprendido a lição com vovòs) se deveria alugar, e ela disse "Não, é só pra arrancar dinheiro do povo". Bom, quem precisa de botas, afinal...

E subimos, e subimos, até alcançar os 3500 metros de altitude. E tava tudo branco.... (Vejam as fotos, no link do Webshots) Nevava!!!!! Fazia frio.... E eu sem sapatos de neve! Quem precisa????? EU!!!! Paramos numa estação de esqui chamada Los Penitentes. Estava fechada, pois só nevou agora. No inverno não houve neve suficiente. Lindo.... Mas frio. E a guia Carolina tirava sarro de nós, brazucas. Com razão, pois eu nunca tinha visto tanta neve!!!! E nem os cariocas....

De lá fomos mas allá, arriba, até um lugar chamado Punte del Inca. Uma ponte natural, com umas pedras ao lado, que depois foram esculpidas em forma de templo. É uma estação termal. Mas o pé afundava na neve. E minhas botas (que não eram pra neve, claro) já estavam há muito congeladas. Já não sentia o dedão, e comecei a ficar preocupada. Assim, deixei o grupo e fui tomar (OUTRO!) café num botequinho espelunca. Havia uma lareira improvisada, e na frente uma mesa com 4 (ADIVINHA?????) vovôs. Pedi licença, puxei uma cadeira e me sentei. Pus as botas perto do fogo. Saia fumaça delas. Tirei as botas e saía muita fumaça das meias... Os vovôs (e vovós) eram chilenos. Ficaram morrendo de pena de mim. Mas o pé só tava frio mesmo. Nada sério. Um alfajor e 30 min depois, fomos embora para nosso local de almoço, outra vez em Los Penitentes. Nos sentamos, eu, Ana Lúcia, Flavio (os cariocas) e Gabi (a portenha). Pedimos uma garrafa de vinho. A opção de almoco era bife de tira com batatas ou um guiso de lentejas (lentilhas). Pedi lentilhas. Veio quase que uma sopa, cobrindo um monte de arroz, com abóbora, linguiça, uma delícia!!!!!!! E quentinho. "Postrezito?". "No, gracias. Cafe con conhaque". "quatro...". Quentinhos e bebinhos, saímos em direção ao bus e quem tinha aparecido???? O sol!!!!!! A paisagem tinha mudado por completo. Lindo, um céu azul de tirar o fôlego!!!!!!

(a drástica mudanca de tempo depois do almoço, e depois da fronteira com o Chile)

E então nosso motorista Hugo se encheu de braveza e tentou nos levar ao Aconcagua. A estrada estava fechada por causa da neve, mas o Hugo passou pelo posto policial, onde não havia ninguém. E lá chegamos... Nós, a uns 3800 metros de altitude, e ele a quase 7000. Vimos na verdade uma montanha "mas alla", com nuvens tapando. Mas valeu. Me senti 1% alpinista!!!!!!


Na volta, a Carolina encheu uma garrafa de água com ar da montanha. Disse que quando chegássemos na cidade iriamos ter uma surpresa. Então, na descida, paramos ainda uma vez na pré-cordilheira, pra ver uma represa importante... E Carolina e Hugo nos surpreenderam com café e alfajores. Nesta altura do campeonato, eu ja nem falava de frio. Falei um palavrão em português e o povo morreu de rir... Eles adoram nosso sotaque, dizem... E meu alfajor eu dei pr´uns cachorros que estavam por ali... Tadinhos...

Pra encurtar, o passeio terminou, e eu e Gabi combinamos de encontrar Flávio e Ana no La Tasca de la Plaza Espana, lembram? O primeiro lugar onde jantei em Mendoza. Nos encontramos por volta de 10 da noite. Pedimos entrada, e um fabuloso Malbec 2000 chamado Obra Prima, de uma bodega-boutique. A entrada eram mariscos com salsa de açafrão.... De prato principal, eu Flávio e Ana pedimos Lomo de ternero a la plancha (file de novilha grelhado). Excelente. Mas o prato da Gabi, Cazuela de mariscos, tava muito mais bonito.

Depois de um super dia agradával, um lindo passeio, belíssimas refeições, caí na cama feito pedra. E chega!

segunda-feira, setembro 06, 2004

Um tour furado....

(barrica antiga da Bodegas y Cavas Weinert)


Hoje decidi fazer um tour (intermediado pelo albergue) às minhas primeiras vinícolas, aqui chamadas de Bodega. Pela manha dei um rolê pela cidade, fui até a Plaza Independencia, visitei umas vinotecas (lojas de vinhos). Comprei uma comida vegetariana pra viagem e fui almoçar no albergue. O tour saiu às duas da tarde.

Aquele tour típico: um microbus cheio de turista, uma guia falante... Ih, acho que não cou curtir... Tinha uns gringuinhos, pobrezinhos, e o inglês da guia - Laura - era carregadíssimo. No caminho para Maipu, uma das cidadezinhas vizinhas, onde se concentram boa parte das bodegas e dos vinhedos, a criatura se atracou com o microfono e não parava de hablar.

Explicou que a região de Mendoza é um deserto, e o homem a transformou num oásis, através de um sistema de irrigação fenomenal, que usa a água de degelo das montanhas - inclusive das Neves Eternas... É realmente incrível o sistema que eles usam, com diques que represam os rios Mendoza e dois outros. Há um sistema de comportas que são abertas por horas ao dia, e assim a água é distribuída igualmente em toda a região. Se não fosse a extrema secura do ar, não se poderia jamais dizer que a região é (foi) um deserto!

Explicou a história dos vinhedos, os diferentes tipos de plantio, as diferenças climáticas que tornam este lugar um lugar especial para vinhos, e o tal vento Zonda. É um vento quente que só ocorre aqui e em mais dois países da Europa - não lembro quais - e quando ele sopra, ele aumenta a temperatura e pressão atmosférica. Depois que ele cessa, bum! Frio - e consequentemente neve nas montanhas (eeebaaaa!). Além disso, os vinhedos são castigados anualmente com chuvas de granizo. Algumas das pedras são grandes o suficiente para matar uma vaca, dizem eles. As chuvas de granizo são o pesadelo dos viticultores mendocinos.

Bom, chegamos na Bodega Baldrón. Nosso grupo se juntou com outro, éramos uns 30. Uns brasileiros daqueles de dar vergonha... Se empurrando e tudo. Uma guia da casa nos acompanhou. Mostrou todo o processo (uma bodega pobrinha...), e por fim fomos para a sala de degustação. Um vinho horroroso! Mas tudo bem.

De lá, fomos à Bodegas y Cavas de Weinert, em Luján de Cuyo, outro lugarejo que vive da vitivinicultura. A Weinert foi fundada na argentina por um germano-brasileiro. É uma das únicas bodegas que ainda utilizam tonéis de carvalho ao invés das barricas menores. Por uma questão de opção. A bodega é linda! Se diz que frequentemente é possível ver membros da família enfiados dentro das barricas fazendo a limpeza. Tradição vitvinícola - de geração para geração. Depois do tour, uma breve degustação. Vinhos bem melhores, inclusive um Cabernet/Malbec rosé bem seco! Interessante...

Nestas alturas, ja tinha feito "amiguinhas": uma suíça que hablava español muy bien, e umas argentinas do meu albergue. Paramos ainda na igreja da Santa de la Carodilla, a protetora dos vinhedos. Comemos empanadas, e finito o tour!

A noite, saí para jantar. Andei, andei e acabei parando num lugar de massa. Só fiquei porque tava exausta, mas comi mal. Caí na cama e dormi feito un angelito. No dia seguinte, ia sair para um tour até o Aconcagua.

Mendoza, um caso à parte

Mendoza é uma província argentina (estado), e a cidade de Mendoza é a capital desta província. é a primeira região produtora de vinhos da Argentina em quantidade. Fica a 200 km de Viña del Mar (Chile) e 1400 de Buenos Aires. Assim que é mais perto do Chile.

Cheguei às 8:30 da manha, estava fresco (13 graus), e dava pra ver as montanhas - os respeitáveis Andes - sem neve. Me decepcionei um pouco. O albergue era dez, uma casona, com quarto legal, e um staff ótimo. Fiquei horas esprando para poder ocupar o quarto, e lá pelas duas da tarde saí para um passeio. A cidade estava deserta, era um domingão. Logo achei uma praça linda, com um restaurante que eu gostei da cara, em frente. Mas estava fechado. Andei um pouco mais. Almocei num lugar qualquer, e mal. Tava tudo fechado, então, "ja que sá tem tu, vai tu mesmo". Voltei pro albergue, sesteei, tomei um banho e saí de novo. Resolvi que ia naquele restaurante da Plaza Espana, pois tinha comprado a revista El Conocedor (a Gula deles) e o tal lugar estava recomendado. Porém, eu não tinha grana trocada - só dolar, porque eu sou fina..., e eles quase nao aceitam "tarjeta" de credito aqui. Entao me mandaram ao hotel Hyatt cambiar la plata. E lá no hotel (um prédio lindo) tive que ir até o casino. O que me broxou, pois de cassino, chega os dos navio.... Troquei o dinheiro e fui comer, la no LA TASCA DE LA PLAZA ESPAÑA. Se alguém um dia vier a Mendoza, não pode deixar de ir la.

Servico excelente. O dono me trouxe um livro sobre a cidade. Depois que souberam que eu trabalhava com vinhos, so me papacaricaram....

Tomei um Torrontes (Atilio Avena Y Hijos) 2003 excelente, acompanhando um plato de machas - um bivalve chileno (só existem no Chile) - afinal, Valparaíso é logo ali.... com molho de ervas e queijo. Perfeito! Depois, pescado a Don Carlos, uma mescla de peixes brancos com um molho de vinho branco, gratinado com queijo.... De sobremesa, pêssegos frescos cozidos em Malbec... Passei tão bem...

Isso tudo depois de comprar brinquedinhos de antigamente numa feira de artesanato na Plaza España.

Voltei caminhando pro Albergue, umas 6 quadras. Isso, prum paulistano, e uma dadiva por si só! Caminhar de noite na rua, sem preocupação! Dormi o sono dos justos (se não fosse o vento Zonda). Pero esso es otra historia...

sábado, setembro 04, 2004

Continuação...

Bem, o título do último post ficou sem explicação... Mas aí vem o porquê. Buenos Aires tem um ar europeu, sim, assim como Montevidéo, Havana... Mas a sujeira na rua não trai o traço latino! Ruas imundas... Como São Paulo!

Entretanto, com um café a cada esquina, podemos ver os portenhos lendo seu jornal e tomando seu café com medialunas - um tipo de croissant, típico - serido sempre com um copinho de água ao lado. Cafés excelentemente bem tirados, diga-se de passagem. E garçons empertigados, por todos os lados. E os cafés ou confiterias tem nomes Paris, Gardel, Piazolla, Espana, e por aí vai... Paris seria aqui se não fossem os argentinos...

Bom, dia 3 em Buenos Aires. Acordei moída, cheia de dores nas pernas e pés. Fui a Calle Florida trocar dinheiro, e sabadão estava bem mais tranquilo. Depois fui ao tradicional bairro San Telmo, tipo a Vila Madalena deles. Ruinhas cheias de antiquários, quase tudo fechado. A Feria de San Telmo acontece só aos Domingos. Resolvi almoçar num restaurante recomendado, e barato. Mesinhas grudadas umas nas outras. Pedi uma parillada para una persona, com chorizo (linguiça), chinchulines (a tripa leiteira do Pantanal, que por sinal é melhor que a daqui, pois o sabor da daqui é de queijo velho), riñones (ecaaaaa) e bife de tira. Pedi uma salada verde pra acompanhar, e ela estava bem suja. Assim que não valeu o almoço, mas foi barato. Nas mesas ao lados, dezenas de portenhos apreciando garrafas de vinho tinto barato misturado com água com gás.

De lá resolvi ir ao Parque Lezamo. Uma boa caminhada... O parque nem é tão bonito, mas o destaque fica para a igreja Ortodoxa Russa. Bem típica da Rússia!

De lé decidi ir a La Boca, conhecer o Caminito. Mas as ruas foram ficando cada vez mais sujas... E me disseram umas señoras a quem pedi informação, que perto do porto era perigoso. Ainda bem que nem tinha levado a máquina hoje.

Finalmente cheguei ao Caminito. Um lugar interessante, mas tinha um festival rolando, estava absolutamente LOTADO... E meu humor já não era dos melhores, pois estava exausta. Depois de tomar um café num barco-bar no imundo porto do Mar del Plata, tomei um táxi e voltei pro albergue. Me dei conta de quanto tinha andado...

Descansei, fui à Internet e liguei no Navigator. Estava tudo ok, o cruzeiro tinha sido estendido por 2 dias, e eles estavam navegando ao redor das Bahamas. Então fui ao Cafe Tortoni, o mais tradicional de Buenos Aires. Lindo, decoração original do começo do século. Comi um sanduba, tomei um café (nunca na vida tomei tanto café num só fim de semana)...

Na volta pro albergue, chuva... A primeira. E fui terminar meu Finca El Portillo Malbec no albergue, assisitindo a cobertura do furacão Frances no Larry King. Que salada cultural.

No dia seguinte saí cedinho pra Mendoza. Mas aí é outra história.

Paris é em Buenos Aires??? Na-não....

Well, e assim comecava meu segundo dia na terra do tango. Acordei tarde, pois fui dormir bebum. Fui tomar café, fiquei papeando com um casal de alemães que vai ficar viajando 4 meses por estes lados - menos Brazil, muy caro!

Já eram pra la de 11 quando finalmente saí, em direção a Plaza de Mayo - Bairro Monserrat. Tinha que chegar cedo lá, pois é na hora do almoço que começam as manifestações de piqueteiros (quem nao sabe o que esta rolando lá, vá ler jornal). Há umas duas quadras do albergue, atravessava a rua quando um velhinho me pede inofrmações. Peço desculpa e lhe digo que não sou daqui... Ele pergunta se sou brasileira, e aí começa.... Morou no Brasil, a filha mora na Alemanha... Me convidou para um cafá e eu aceitei, pois dizia o Guia da revista Viagem que assim eram os portenhos. Mas ai o vovô desatinou a falar e não parava mais... Eu olhava o relágio agoniada... 1 hora depois pedi desculpas e fui. Cheguei na Plaza de Mayo 12:30 e já escutava o burburinho. Um mar, um exército de policiais na rua, em frente a Casa Rosada, por todos os lados... A Casa Rosada tinha acabado de fechar para visitação. Aliás, ela é pink! Nem tirei fotos, pois deu medo. O clima foi ficando tenso, e eu piquei a mula. Me mandei para o Centro pela Calle Florida (a 25 de Março deles, só que o comércio não é popular). Peguei a Av. Corrientes (tem a ver com tango, mas não achei nada disso). Cheguei ao Restaurante Arturcito, 40 anos de tradição, o melhor bife de chorizo da cidade. E era mesmo. E destaque para o café expresso, com uma espuma tão cremosa que parecia de chopp. Durou até eu acabar de beber o café...

De lã, fui ao teatro Colón. Nem ia entrar, mas lembrei do Municipal de Havana ( Cuba), que tinha valido a visita. Então, por 7 pesos, vi o interior do teatro, desbundantemente belo!!!!! Um espetáculo por si... Ouvi um recital de violino e um ensaio de ópera. Quem for a Buenos Aires não pode perder este passeio. Já eram 3 e pico e voei, pela Calle Florida, até a Recoleta. No meio do caminho, um show de tango de rua, a música era La Cumparsita. Custou 2 pesos, muy bem pagos. Cheguei a Recoleta. Parecia com os Jardins, em São Paulo. A Av. principal, Alvear, parece a Oscar Freire. Salvatore Ferregamo, Escada, joalherias, etc. Nesta altura, o bife de chorizo já tinha sido digerido havia tempo. A barriga gritava arroz... E aí, era hora da famosíssima empanada do San Juanino. E óbvio, ao chegar lá, fechado! Mas o dono me abriu a porta e me vendeu duas empanadas (uma normal, outra picante, as duas de carne, claro). Ia ao cemitério dar um alô pra Evita, mas não deu. 4 horas de caminhada, 3 bairros, os olhos ardiam.... Tomei um táxi e voltei pro albergue.

Banho, e saí para comprar vinho no super da esquina. Um Finca El Portillo (Salentein) Malbec 2002 por 10 pesos. Que barganha... Vinho gostosinho! Aí jantei no resto (como dizem os portenhos) embaixo do albergue. Uma massa caseira, uma água, um copo de vinho ordinário... 12 pesos com serviço! Exausta, subi, abri o vinho e liguei a TV. Chegaram outros alemães, começamos a conversar, e de repente vi no jornal da Globo (na Globo Internacional) que a Florida seria varrida pelo furacão Frances. Entrei em pânico ao pensar no Navigator, que estaria em Miami neste mesmo dia, e na Ana Paula de Paula, que tinha me mostrado as proteções anti-furacão na casa nova deles. Como não podia fazer nada, bebi mais um pouco e fui dormir...

Continuo depois...

sexta-feira, setembro 03, 2004

Diários argentinos de Bacco

Só pra não perder a linha de raciocínio...

Estou de férias, pra quem não se deu conta, e resolvi viajar pra Argentina, pra conhecer uns vinhedos e vinícolas, e Buenos Aires, por supuesto. Bom, ontem meu vôo atrasou 2 horas, cheguei duas horas mais tarde aqui, mas tudo em riba. O albergue que estou é legal, bem localizado, dividido em duas casas, uma na frente da outra. Numa delas, dizem que o Borges costumava ler seu trabalho para o público.

Bem, me ajeitei, fiz um roteirinho básico com o guia que comprei no aeroporto, e decido começar com estilo, num show de tango. O guia trazia uma recomendação de Sergio de Paula Santos, um enófilo brasileiro, para ir ao Club del Vino. E aí me fui... Chegando lá, o tal do show era só para convidados... Mas a gerente me deu um convite, viva a boa educação dos portenhos. Era um show de tango sem dança, mas com uns músicos muito bons e uma cantora que parece que é popular por aqui. Bem intimista, bonito. Sentei numa mesa com um velhinho, que era o pai da diretora do espetáculo. Engatamos uma conversa, pedi um vinho - um Malbec 2001 de uma vinicola artesanal, muy rico!, o vovô pediu uns queijos... Foi legal... Depois passei pro restaurante pra jantar. Um lugar agradabilíssimo, com um cardápio bem interessante. Pedi de cara um cervo da patagonia, mas, claro, não tinha... Então, mudei pra morcilla (linguiça de sangue) com peras carameladas. Pra tomar, um blend de Shiraz Bonarda 2002 de uma vinícola de San Juan chamada Santos. Delicioso, mas aí eu já estava entupida. Mas já tinha pedido um risoto de funghi selvagem com alho poró doce, e pra tomar, um Tannat Merlot 2003, também da Santos... Maravilhoso! Estava tudo perfeito, mas eu estava realmente entupida... Deixei quase metade do risoto - o vinho eu acabei, é claro. E o mais assutador, pedi a conta... Esperei um susto, e assutei! 40 pesos, o que dava uns 40 reais... Em São Paulo esta refeição não teria saído por menos de 70 reais!!!

Voltei pro albergue estufada e de pileque, mas valeu... Se todos os dias forem assim, eu fico aqui pra sempre!!!!