domingo, maio 31, 2009
Campanha WWF Seleção Natural - revolta
Aqui o link da campanha WWF Seleção Natural e aqui link pro blog Panóptico, onde li sobre a campanha, que eu desconhecia.
E neguinho esbravejando que a "Xixi no Banho" é ruim!
Mais tarde volto com a segunda parte do Minha Noruega - Comida...
sexta-feira, maio 29, 2009
Minha Noruega - Comida parte 2, nos dias de hoje
Havia falado da necessidade de preservar as carnes e peixes, e os grãos, também em forma de pão, pro inverno. Começo então com os pães entre eles o lefse e o flatbrød. Hoje em dia, os dois ainda fazem parte da dieta norueguesa, sejam industrializados ou artesanais. Nossa vizinha lá de Styrkesnes ainda faz flatbrød, na casa da sogra e no chalé não falta. As receitas caseiras ainda podem ser tradicionais, sem farinha de trigo, ou podem ter sido "evoluídas" com a utilização do trigo. De qualquer maneira, é uma delícia. Com lefse de batata até enrolam salsicha, numa espécie de cahorro-quente típico. Abaixo, respectivamente, lefse e flatbrød.


Quanto a pratos feitos com carnes e peixes curados ou salgados, muitos deles hoje fazem parte das mesas norueguesas em ocasiões festivas.
Lutefisk, por exemplo, que é feito de peixe, mais comum bacalhau, é típico no Natal em algumas regiões (as tradições natalinas variam de acordo com a região). Consiste de peixe semi-desidratado, então colocado de molho em água fria por 5 ou 6 dias, com a água sendo trocada diariamente. Então, colocam o peixe de molho em água com soda cáustica (lut, em norueguês - daí o nome lutefisk, lut+fisk, peixe) por dois dias. O processo faz com que a carne do peixe inche, entretanto a quantidade de proteína da carne reduz em 50%. Como a soda cáustica obviamente é corrosiva e não comestível, o próximo passo é deixar o peixe novamente de molho em água (trocada várias vezes ao dia, ou melhor, se possível, em água corrente) por outros 10 dias. Depois disso, ele está pronto para ser cozido, mas o processo deve ser lento e delicado, ou o peixe, com consistência quase gelatinosa, se desfaz! Pode ser colocado numa panela tampada, sem água, por 10 minutos, ou assado no forno embrulhado em papel alumínio. Ainda não tive oportunidade de provar, mas certamente o farei e escreverei a respeito!
Perna de carneiro curada e salgada (como um presunto cru) também é um prato festivo que tem origem no passado, e até hoje é consumido, assim como arenque em conserva ou pickles, camarões em conserva... Todos estes itens podem ser encontrados hoje numa mesa de festa, ou mesmo do dia-a-dia. Não me esquecendo de todos os frios à base de carne de alce e rena - salsichas, linguiças... Deliciosos! Há um outro prato tradicional chamado fårikål, um cozido de cordeiro com repolho, que também é preparado desde antigamente, já que o repolho é fácil de plantar em climas mais frios.
Mas se você me perguntar qual é a comida típica do norueguês hoje em dia, terei que responder PIZZA! O que? Como assim? Eu também me assustei, até o Lars se assustou, com a seguinte estatística: a Noruega é o maior consumidor de pizza congelada NA EUROPA INTEIRA! E eles tem só 4 milhões de habitantes! Fonte aqui, mas fui confirmar aqui e aqui. É verdade!



Além disso, existem aqui muitas variedades de comida pronta. Enlatada, o normal - grãos, molhos, uma eventual salsicha... Já os pozinhos, fiquei besta! Além das sopas, há dezenas de tipos de molhos, marinadas e purês. Depois que cheguei, proibi o Lars de comprar estas coisas. Não é chatice não. O consumo excessivo deste tipo de alimento é extremamente prejudicial à saúde, pela quantidade de gordura, gordura trans e sódio, três venenos... Uma vez ou outra, tudo bem, mas peraí, gente! Purê de batata em pó acho uma vergonha. Não dá tanto trabalho assim fazer em casa. Tenho verdadeiro horror destas comidas, pelo gosto pasteurizado que elas tem, mas principalmente pela ameaça à saúde... Aqui o link para uma das maiores marcas de comidas prontas, a Toro. Se tiver paciência de navegar pelo site em norueguês, dá pra ver a variedade impressionante de itens, em TODAS as categorias, dos achocolatados às refeições que vão direto ao micro. A categoria que mais me chama a atenção é a de comidas tradicionais (norsk tradisjon, a partir do link Produkter>Produkter A-Å>Norsk Tradisjon). Comida típica, direto do saquinho ou da caixinha! Não tenho informação suficiente para dizer se nos países escandinavos é assim - fiz compras na Suécia uma vez ano passado, e era quase igual...

Um exemplo acima, o lapkaus, um prato de origem camponesa, na verdade um cozidão de carne com veduras. Pode ser claro ou escuro. Pode ser feito fresquinho, como faz minha sogra, ou você pode optar por abrir uma caixinha!
Pode ser especulação minha, mas ao menos por aqui nestas bandas, acho que não vejo tanta gente gorda na rua porque comem muito peixe, e porque se exercitam bastante... Os idosos pra cima e pra baixo de bicicleta, o povo anda bastante a pé e de bicicleta por aqui, e nos fins de semana sempre vão para a montanha... Deve ser isso. E, também especulando, apesar de terem uma carga horária bem decente (7 a 7,5h diárias, ridículo comparando com SP< style="font-style: italic;">fiskekake. Em geral fritam na frigideira, mas são tenebrosos. Só consigo comer feito sanduíche, e cheio de catchup! Eu tenho comprado peixe ou usado o que pescamos pra fazer o fiskekake em casa, mais gostoso e mais saudável.


E outra peculiaridade... Vi uma seção onde haviam váááááários tubos parecidos com pasta dental. São um tipo de queijo fundido com sabores diversos, presunto, camarão, etc. Neste formato também vende-se maionese e ovas (ou como eles dizem, kaviar) de bacalhau. Esta última uma delícia, não falta aqui em casa. Consome-se muito as ovas, o fígado e até a língua do bacalhau (esta última tratada com iguaria, caríssima em restaurantes da moda em Paris, Nova Iorque, São Paulo). São ricos em ômega 3, elevam o colesterol bom e combatem o ruim, além de ricos em vitamina A e D. Mais um motivo pelo qual os noruegueses são saudáveis?




Enfim, é isso... Aqui no meu mundinho de frutas caríssimas e pozinhos que viram comida, alcaçuz e bacalhau!
Minha Noruega - Comida, a história
Enfim, fui fazer pesquisa (na Internet, óbvio, mas não me restringi ao Wikipédia não. Usei meus prórios livros sobre o assunto também). Achei até um blog de um povo que ainda vive como viking! Os hábitos alimentares de um povo são obviamente ligados à história desse povo. Então, os vikings tem grande influência na alimentação norueguesa. Assim como os sami (conhecidos no Brasil como lapões?), povo nômade que habita o norte da Europa há séculos (da Noruega até a Rússia) e que sempre subsistiu das renas... Falar dos sami merece um outro post, um outro dia.
Ainda há que se considerar geografia... E na Noruega, apenas 5% das terras são cultiváveis - o resto é montanha, fjord, ilha, neve... Aqui no norte da Noruega, o período de cultivo (crescimento e maturação) das plantações é de 100 dias (no sul, de 190 dias!) com muitas horas de luz. A corrente do Golfo também exerce enorme influência do clima e aumenta o período de cultivo, que, entretanto, ainda é curto para o trigo, que não era comum. Aveia, cevada e centeio eram mais utilizados. Acredita-se também que os vikings, comerciantes que também foram, traziam às vezes produtos de outras terras. Acredita-se que os vikings, ao chegar à Irlanda, conheceram o meade, um vinho feito de mel, e se encantaram com ele, aprendendo a produzi-lo e levando a tradição a outras terras. Entretanto, não encontrei nenhuma menção a meade na Noruega.
A batata só chegou Europa depois da exploração da América do Sul, trazidas dos Andes pelos espanhóis. Curiosidade: os noruegueses, como muitos outros europeus, foram relutantes na utilização da batata, e passaram a usá-la como alimento a partir de 1700, quando a comida se tornou mais escassa. A Noruega comemorou 250 anos da presença da batata no país no ano 2000! Hoje, a batata é o vegetal mais importante na mesa norueguesa.
A Noruega também era um país pobre, camponês (tô falando de séculos atrás). Os grãos e carnes (ovelhas, cabras, porcos, aves, e caças) além dos peixes, sempre estiveram presentes na mesa noreguesa. Sobreviver (e manter os animais vivos) de ano a ano, em condições adversas, era uma luta. Os animais eram mortos no outono, quando estavam mais gordos e os pastos e eventuais rações começavam a ficar escassos. Pela falta de refrigeração, algum método de conservação precisava ser empregado, pois mesmo no frio as carnes apodrecem. Então, defumação, cura com sal, cura com sal e água e a secagem (o vento frio é excelente) preservavam as carnes. Mais tarde açúcar também passou a ser empregado. Do leite se fazia queijo, manteiga e leitelho. O outono era a época mais farta do ano, e a maioria das festas era planejada para esta época.
Os pães nacionais, historicamente, eram dois - que não precisavam de forno para assar, pois eram assados em, pedras chatas aquecidas: o lefse, feito de farinha (que não de trigo - ou mais tarde batata), leite, creme ou banha. Era assado em fogo, numa espécie de grelha, e podia ser guardado por mais tempo. Há também o lefse mole, feito com creme de leite. Este não se conservava e era mais consumido em ocasiões festivas. O segundo, flatbrød, ou o que conhecemos no Brasil como pão sueco, também era feito de farinha. A massa era esticada, esticada, esticada, e assada numa grelha até ficar bem crocante. Este também se conservava por muito tempo.
Já falamos das carnes e grãos de antigamente, agora vem os peixes... A pesca sempre foi atividade importante, e os peixes sempre foram abundantes. Há relatos já na Idade Média sobre a importância do bacalhau e do arenque na economia norueguesa. Eram preservados em forma de pickles (o arenque) ou salgados (o bacalhau). Pratos feitos com carne de peixe moída (bolos e bolinhos de peixe) são muito antigos e tradicionais na Noruega.
A comida crua só passou a ser consumida a partir de 1700 também com o apareceimento do fogão. Entretanto, eram poucas as famílias que possuíam fornos em casa, pois requeriam muito combustível para aquecê-los.
Frutas aqui no Norte, naquela época, somente as berries (frutinhas dos arbustos) da floresta, como framboesas, mirtilos, multen (uma espécie de framboesa, mas amarela).

Outro fator importante: as famílias nórdicas comiam apenas duas vezes ao dia. Dagverðr no meio da manhã, e náttverðr à noite. A maioria das famílias possuía algum tipo de mesa, e as ricas usavam um tipo de toalha.


Tempo ruim
Falando em tuberculose, voltei três dias depois para fazer o controle do teste. Tinha até esquecido dele, pois a bolinha sumiu, não dava pra ver nenhuma reação. Acreditam que a mulher botou uma régua pra medir o tamanho da reação no lugar errado? Quando avisei, ela disse que não, então mostrei a ela a mini-ini-máini cicatriz da seringa! Ela não tinha nem anotado se tinha visto minha cicatriz da BCG! E, ao medir a reação no lugar errado, ainda disse "Nossa, é uma grande reação!"... Espero precisar pouco de médicos aqui! Então disse que ela encaminhará os resultados para o hospital, e que eles me enviarão uma carta avisando o dia do raio X. Whatever...
E por falar em verão... Vi aqui no mercadinho da rua de casa um cartaz para um festival de música em Lofoten (ilha perto daqui - tem que pegar uma balsona), chamado (!) Codstock! 3 dias de peixe e música! Nem preciso falar o quanto ri...


Pra aliviar um pouco meu eco-terrorismo, dei um tempo com o assunto... Já disse que acho que faço minha parte até bastante. Escrevi um post sobre lixo, aqui em casa e aqui onde moro. Será publicado bem depois. Mas resolvi que ele fará parte de uma série sobre a Minha Noruega! Digo minha, pois eu não moro em toda a Noruega, moro em Bodø, cidade pequena, longe do centro urbano, digamos assim, numa província onde jovens da capital ainda crêem haver ursos polares (!)... Por isso, posso falar com propriedade como são as coisas aqui, em Bodø e arredores. Começo com um assunto mais interessante: comidinhas...
quinta-feira, maio 28, 2009
ainda sobre comer carne - mas pra rir um pouco!
Esta é uma
quarta-feira, maio 27, 2009
Ainda sobre meio-ambiente - e pra quem gosta de um churrasco, como eu
Filminho de hora e pouco, "então senta que lá vem história"...
Xixi no banho - chegou aqui rápido, hein?
Então inventei de procurar na net "assuntos ambientais",digamos assim, e finalmente cheguei até a campanha do SOS Mata Atlântica " Xixi no Banho", que tá rolando no Brasil - não sei se no país todo, mas em São Paulo, ao menos. Tenho admiração pela entidade, pelo que ela representa, mas na verdade não conheço a fundo o trabalho deles, o que é uma vergonha, pois trabalhei para o fundador do SOS lá no Pantanal... Enfim, prá quem não conhece a campanha, veja aqui no link Xixi no Banho .
(DISCLAIMER: Se vc é daqueles que acha que fazer xixi no banho é nojento, a coisa mais degradante do mundo, então pare de ler o post! Vá fazer xixi na privada e me deixe devanear em paz sobre assuntos que não são da minha alçada!)
Tava até pronta para publicar um link para a campanha Xixi no meu Facebook, mas apaguei o post. Achei necessário ler mais sobre o assunto, que me pareceu ia gerar polêmica. Pesquisei, achei! A primeira das críticas, no blog De repente, é de medo que a mensagem - economizar água - se perca no meio da discussão mijar ou não no banho. E vai mais além, como envolver comunidades pobres, como as que vivem às margens da Billings e nem saneamento tem? E me parece, de acordo com a Internet, que foi exatamente isso que aconteceu... Várias pessoas repudiam a campanha pelo simples argumento de que é nojento, nem pensar, saúde pública, vai gastar mais água ainda lavando o chuveiro depois, etc. Essas críticas pra mim são vazias. Não vi críticas de meios de comunicação (não tem problema, pois a maioria deles também é vazia!) nem de entidades ambientais ou especialistas, salvo a crítica no blog Bratislava, onde o autor esbraveja contra a campanha por ela promover uma ação isolada, que serve muito mais como apaziguadora de culpa da classe média (ainda existe isso no Brasil?) que faz porra nenhuma pelo ambiente no dia-a-dia, do que como campanha de educação ambiental. Várias pessoas dizem que esperavam mais do SOS...
Agora, me pergunto, eu aqui, que desde cedo me preocupo com preservação, entretando tenho o infortúnio de pertencer à grande massa daqueles que acha que fazer sua parte engloba, entre outras ações, fechar a torneira ao escovar os dentes, será que qualquer tentativa que atraia atenção para o tema não é válida? Exceto por vários blogueiros que li net afora escrevendo sobre o assunto com português ruim dizendo que xixi no banho é nojento bla bla bla ( as únicas críticas que tem argumentos coerentes são as do De Repente e do Bratislava) me parece que as críticas são pequenas e que, portanto, a campanha causou o impacto esperado pelo SOS. Segundo o Mário Mantovani, ao menos. Veja trechos de entrevista tirada da Veja.com (desculpe a fonte ruim, mas foi a única que achei!):
"Há muita gente torcendo o nariz para uma campanha que pede às pessoas que façam xixi no banho?
Ao contrário. Para a minha grande surpresa, a campanha teve um impacto positivo violentíssimo. A gente vê pela reação, principalmente, via internet. A ação está bombando. As pessoas mandam e-mails, participam, elogiam, dizem que esse é um jeito legal de chamar a sociedade para a luta pelo ambiente. A campanha usa humor, e isso é uma coisa bacana. Nós deixamos de ser um espírito desagradável, de fazer aquele papel do ecochato que dá ordens para as pessoas. E, por trás da questão do xixi no banho, há coisas maiores: está ali a defesa do código florestal e da Mata Atlântica, que é uma grande produtora de água. É claro que tem gente que diz "Eca!" para a proposta da campanha, mas a maior parte parece entender a ação como uma chamada à cidadania. Essa campanha está tendo uma repercussão fantástica."
"Qual o público mais atingido pela campanha?
A melhor resposta que estamos recebendo vem do público jovem. É ele o que mais se manifesta, mandando e-mails ou escrevendo mensagens nas redes sociais. Talvez essa geração jovem esteja mais ligada à questão ambiental que aquela que veio antes dela. Mas acredito que as crianças também devam adorar a brincadeira."
Sim, a classe média tem a consciência aliviada por comprar a pasta de dentes Sorriso Herbal do SOS Mata Atlântica, como eu sempre fiz. Por, talvez, começar a fazer xixi no banho, sei lá. Obviamente estes mesmos sujeitos da classe média provavelmente não doam dinheiro nem voluntariam para nehuma entidade ambiental, não tem carros híbridos (muito menos a álcool - NO BRASIL!!!!), não se esforçam para separar o lixo (que não é nem a Prefeitura que coleta, em geral empresas particulares que os condomínios e associações de moradores contratam), ainda usam sacos de supermercado, consomem muito além do que precisam... Mas ao menos o fato de fazer esta gente pensar no assunto já não é uma vitória?
Entendo a revolta frente a uma ação pequena, citando o blog Bratislava, onde o sujeito diz que não adianta nada fechar a torneira dele enquanto escova os dentes, se um produtor de soja latidundiário continua poluindo milhões de litros de água para irrigar plantação que alimenta o gado europeu. Diga-me, então, o que o indivíduo comum pode fazer para parar o fazendeiro do MT? Parar de comer carne? A carne que a gente come aqui é daqui! E se deixarmos de comer, no momento, tem quem coma... E se a pecuária parar de dar dinheiro, eles somem com as vacas e plantam soja!
Então, tudo o que me resta, enquanto indivíduo, é fechar a torneira ao escovar os dentes, usar sacolas duráveis no supermercado, economizar energia elétrica, comprar e consumir alimentos conscientemente, VOTAR conscientemente (alguém aí lembra em quem votou, ou sequer sabe se seu parlamentar comparece ao trabalho???), reciclar o lixo, ter um carro híbrido, elétrico(pra quem pode), ou melhor ainda, ABANDONAR o carro, colaborar com entidades ambientais, ser voluntário, divulgar campanhas ambientais, etc. Ou não?
Depois de tanto pensamento, vi no blog da Lucia Malla um post mais antigo que fala sobre o fim de sua igenuidade ambiental. De novo, explico - eu, uma simples sujeita que nunca estudou a questão, nem é da área, muito menos, se mete a ler um blog de uma pessoa mais engajada, e depois fica aqui babando no sofá sem entender nada! Então, no fim das contas, continuar fazendo minha parte resolve, ou não?
Acredito que sim! Não desisto disso não! Por isso botei aí do lado o selinho do "Faça a sua parte", que por sinal apoiou o Xixi! Visite e descubra como continuar contribuindo sem necessariamente mijar no box!
Por falar em A-ha...
Muita gente acha que o A-ha foi uma banda de dois hits nos anos 80, pela qual as então adolescentes eram loucas. E ficou nisso - aí no Brasil. Porque aqui na Europa - em seu país natal, além da Alemanha e Inglaterra principalmente - os caras continuaram na estrada E fazendo sucesso.
A banda tem uma história de persistência - "Take on me" foi lançada duas vezes antes de alcançar o sucesso na terceira tentativa. A partir daí não pararam - turnês mundiais ocupadíssimas, incluindo a participação no Rock in Rio II em 1991, pela qual eles ainda detém o recorde mundial de audiência pagante - 198 mil pessoas. Os anos 90 no Brasil foram marcados (musicalmente) pela chegada da MTV e várias bandas novas foram introduzidas ao público E o A-ha caiu no esquecimento (da maioria). Inclusive no meu... Porém, lá em outras terras eles chegaram a gravar mais um disco após o Rock in Rio II, chamado Memorial Beach. Na opinião da maioria dos críticos, é o pior álbum deles, e o que fez com eles percebessem que era hora de dar um tempo. Se separaram em 1994. Havia muita disputa criativa entre eles, Morten ocupando o papel de líder da banda, quando na verdade ele sempre foi o que menos colaborou criativamente. A imprensa até dizia que haviam se separado pelas brigas. Mas noruegueses que são, bastante ponderados, até hoje alegam que a separação se deu por esgotamento criativo naquele momento. Mas que sabiam que não era uma separação, e sim um tempo...
E neste meio tempo foram fazer outras coisas. Morten lançou seu primeiro álbum solo em inglês em 1995, e veio divulgá-lo no Brasil. Esteve no Raul Gil e Show de Calouros em situações vergonhosas (eu fico com vergonha por ele). Pål Waaktaar, que casou-se com a americana Lauren Savoy e adotou o nome dela, virando Paul Waaktaar-Savoy, mudou-se para NY e montou, com a esposa e outros músicos noruegueses, uma banda chamada Savoy. Paul sempre foi o principal compositor das letras e músicas do A-ha. O trabalho do Savoy é de altíssima qualidade, mais rock&roll que o som A-ha. E Magne Furuholmen, mais conhecido como Mags, botou pra fora sua antiga paixão pelas artes plásticas e saiu pintando e esculpindo pela Noruega, além de continuar trabalhando com música, escrevendo até trilhas sonoras para tv na Noruega, e poesia.
Em 1998, eles não conseguiram recusar o convite para se apresentar no Prêmio Nobel da Paz. Paul havia escrito "Summer Moved On" para a ocasião. Deixaram um pouco de lado os sintetizadores, buscavam um som mais orgânico, numa quase obsessão para provar ao mundo que eles eram músicos de verdade. O teclado foi substituído por um piano, nesta música, e os arranjos de orquestra, que eu gosto muito, dão um toque especial. Repare, aos 3:28, que o Morten canta uma nota que dura quase 20 segundos, ou 8 compassos, sem desafinar...
A partir daí retomaram o trabalho como A-ha, sem deixar de lado as atividades solo. Lançaram mais 3 álbuns desde então, com longos intervalos entre eles. O último álbum de estúdio, "Analogue", de 2005, teve excelente desempenho nas paradas inglesas. Mesmo assim, por serem bem ocupados, a quantidade de shows deles é pequena. Também deixaram a gravadora Warner e mudaram para a Universal, com a qual tem contrato para outros 4 álbuns.
Agora, 4 anos depois, o A-ha anunciou o lançamento do novo disco, que estava previsto para 2010, mas não se aguentaram, parece. Dia 24 de abril, menos de um mês depois das 3 apresentações na Américado Sul (Brasil e Chile), eles lançaram um single, chamado "Foot of the Monutain". A capa do single e as fotos promocionais, por sinal, foram feitas na ponte estaiada em São Paulo.

Seguindo a tendência do Twitter, a banda (nós fãs acreditamos que Mags, na verdade, pelo senso de humor) postava os acontecimentos do dia. Durante o GNTM, postaram "Vejo 2,5 metros de pernas na minha frente!" e "Já contei que o cenário arruinou me cabelo?", referindo-se aos minúsculos quadrados onde foram enfiados para a performance...
De acordo com entrevistas da banda, o novo álbum, que se chamará também "Foot of the Mountain" e será lançado mês que vêm, é uma volta às raízes, digamos assim, pois o disco tem bastante sintetizadores. Eles acreditam hoje que não tem que provar mais nada, após 25 anos de carreira. E eu concordo com eles.
Os críticos de música no Brasil não perdoaram, desceram o pau no A-ha, dizendo que o show foi morno (concordo), que só as músicas antigas - porque remetem a adolescência da maioria do público - são audíveis, que os caras não evoluíram, que são medíocres, etc. Eu cago e ando pra eles e pra quem mais quiser criticar - gosto é gosto. Ainda mais agora, morando aqui na Noruega e olhando para os Foot of the Mountain todos os dias, entendo um pouco melhor de onde vem tanta inspiração.
De lambuja, deixo aqui um vídeo do Savoy, banda do Paul, que eu e Lars gostamos muito...
terça-feira, maio 26, 2009
Carros elétricos, o A-ha e a BBC
Pois bem, a Fundação Bellona no final dos anos 80 comprou um veículo elétrico, importado da Suíça. Usando sua celebridade, Morten e Mags junto com Harald Røstvik, especialista em energia solar da entidade, com o qual Morten a Mags importaram o carrinho, dirigiam pelas ruas de Oslo, estacionando no centro ilegalmente sem pagar o pedágio, como forma de protesto. Por anos a fio, a Bellona lutou para conseguir isenção de impostos para seu carrinho, com Morten dando todo o apoio possível. No início, era difícil até registrar o carro elétrico pois o formulário de registro não tinha nem campo para aquele tipo de carro. A justiça vivia atrás da Bellona para pagar o que deviam, até que, depois de muita luta, conseguiram fazer fazer com que o órgão que cobra estas taxas os liberassem da dívida. Tempos depois, conseguiram a isenção como padrão. Hoje em dia em outras cidades européias a iniciativa foi adotada, Londres é um exemplo.
Mas a historinha engraçadinha... Em setembro de 89, numa viagem ao Japão, onde Morten Harket, Harald Røstvik , Frederik Hauge e mais um membro da Bellona iam participar de uma conferência sobre energia solar em Kobe, Frederik Hauge é preso no aeroporto de Osaka com 6,7g de haxixe... Um baseadinho! Os rapazes foram retidos e interrogados por horas. A polícia japonesa nem sabia que o Morten era Morten, e o A-ha era grande no Japão na época! Então, depois de muita lenga-lenga deixaram os outros três ir embora, mas Hauge ficou detido... E na verdade o baseadinho nem era dele! Na noite antes da viagem, numa festinha em Oslo, na saída, o pobre agarrou um maço de cigarros pensando ser o seu. Não era... Dias depois, o dono do maço de cigarros foi a polícia de Oslo e assumiu a culpa. Morten já havia acionado todos os seus contatos no Japão... Hauge foi solto e deportado. Obviamente, a imprensa marrom da Noruega se aproveitou da situação para insinuar que Morten tinha uma visão liberal com relação a drogas, Morten quis processar, já viu, né? Porém, na época, por causa da repercussão da história, a reputação da Bellona na Noruega ficou abalada. Graças a Deus, muitos anos depois, tudo continua bem. A Bellona cresceu horrores, tem representações na Europa e Estados Unidos, e continua promovendo, além de muitas outras coisas, o uso do carrinho elétrico!
Semana retrasada houve um congresso em Stavanger, o EVS-24. Exceto por alguns jornais noruegueses, a notícia do evento foi completamente ofuscada pelo Eurovision e o pentelho do Alexander Rybak... Tá bom, ganharam o Eurovision, mas o que este país vem fazendo pela Terra não é assunto mais interessante, pô???? E, claro, Morten foi convidado pra tocar uma musiquinha no evento, do qual ele participou. No jornal VG do dia 13 é possível ver uma fotinho do Morten (surradinho, coitado!) no evento, e com uma materinha sobre toda a historinha dos elbilene (carros elétricos) aqui na Noruega. E Morten, Hauge e Røstvik são velhos amigos e colaboradores até hoje... E aqui vídeo da apresentação dele no EVS, incluindo delarações do Principe Albert de Mônaco e do Príncipe Haakon da Noruega, que também estavam em Stavanger. Mas nãããããããooooo, na tv e revistas só deu o Pentelho Rybak!
Enfim, se as pessoas não estão comprando carros elétricos ainda, ao meu ver são burras! Eu quero ter um, um dia! Pequenininhos, econômicos, e o melhor, SEM EMISSÃO!!!


E fico por aqui após outro festival de abobrinhas! Futuramente quero falar sobre como fazemos a nossa parte (e onde se desperdiça) aqui na minha Noruega - como eu a percebo! E você, tem feito a sua parte pra "prolongar" a vida útil do planeta?
Coisas diversas
O tempo amanheceu bom hoje, e me animei para a minha caminhada matinal. Sempre saio ao som de Coldplay (especialmente o "Viva la Vida!", me faz caminhar com mais vontade!), ou - clichê - a-ha, olhando as paisagens que os inspiram... Finalmente me lembrei de levar a câmera pra fotografar as tulipas e outras florzinhas que finalmente apareceram por aqui. Vejo nos outros blogs que já havia flores lá pro sul há mais tempo. Aqui em cima foi só mesmo depois que o solão saiu! A cidade fica mais bonitinha, cheia de tulipas, margaridas brancas e amarelas, daffodils (não sei o nome dessa em português, pois não existe nos trópicos, mas é esta, tem também amarelinha, e estas são do nosso jardim! Que aliás está parecendo a floresta amazônica!!! Note to self - cortar grama urgente!)










segunda-feira, maio 25, 2009
Surfando na net
"Exceto para o brasileiro nostálgico. Ah, expatriado com saudade não brinca de ser brasileiro, não! Mesmo formado com Iron Maiden ou com a vanguarda paulistana, ele não se furtará a demonstrar que sabe os passos do samba. Ainda que membro, em terras brasileiras, da minoria que odeia futebol, ele se vestirá de verde e amarelo nas Copas do Mundo. Conhecedor da violência urbana carioca ou paulistana, ele se revoltará contra editoriais, reportagens ou filmes estrangeiros que a retratem. E assim por diante. É o brasileiro que torna-se (imaginariamente) brasileiro no exterior.
Mas a emigração também produz outra forma de expatriado, o "bem-adaptado" que já não "entende" como é possível viver com um salário brasileiro, "esquece" palavras em português e vocifera receitas econômicas fáceis, que funcionaram, garante-nos, em outros lugares. Esse personagem vai tecendo uma identidade híbrida, baseada num pastiche de valores aproveitados da terra adotiva e numa brutal simplificação metonímica de traços do país de origem. É o brasileiro que, no exterior, deixa de ser (imaginariamente) brasileiro."
O texto é "Expatriamentos", de Idelber Avelar. Aqui o link para o texto na íntegra.
Curiosa que sou, fui fuçando pra achar mais. Cheguei no blog do mesmo. E encontrei lá o "Decálogo dos Direitos dos Blogueiros". Rolei de rir... Porque enquanto xeretava a net, tava aqui pensando que hoje em dia, qualquer pessoa, qualquer pessoa mesmo, pode ter um blog. Se o que ela escrever vai ser interessante, aí são outros 500. Mas também lembrei que o que pode não ser interessante pra mim, pode ser para ouitras pessoas... E se você entrar fundo na blogosfera, vai ficar pasmo com a imensidão dela, com a vastidão de assuntos tratados...
Veja um exemplo... Até outro dia, eu tinha opinões fortes a respeito da tal inclusão digital. Sempre pensei que seria ótimo que todos tivessem acesso anet com intuito educativo, por exemplo, poiselapode ser uma ferramenta poderosa. É possível viajar sem sair do sofá, pesquisar sobre animais, cientistas, o espaço, etc, etc. Mas é possível também ter acesso outras informações que eu consideraria perigosas em mentes menos, digamos assim, privilegiadas. E com este pensamento na cabeça, dei de cara com o blog do Santiago Nazarian. Escritor, 32 anos, 5 livros! Que na verdade é o irmão mais novo da, na época, minha melhor amiga dos tempos de infância, da segunda à quarta série... (Viu, a Internet te faz dar voltas sem querer?). E fui olhar o blog dele, e tinha lá um post chamado Inclusão Digital, veja o post aqui. Adorei a inclusão digital dele!!! A faxineira da minha mãe também tá na maior inlcusão digital lá na casa dela... Primeiro, comprou o computador, mas ainda não tinha internet em casa. Ela ficava preocupada que os filhos tinham que ir na lan house (eu também ficaria...). Então o computador era mais pra trabalho de escolha, pra ver dvds e jogar jogos. Agora eles tavam colocando lá internet discada. Adoro esta inlcusão digital... Então porque ter preconceitos no mundo digital? A cabeça tem que estar aberta, se não gostar, não leia, não poste, não comente, né não?
Com estes pensamentos todos na cabeça, li o Decálogo... do Idelber... Aí vão alguns pontos:
"6. Todas as blogueiras terão direito de livre associação em quaisquer grupos, incluindo-se aí grupos com objetivos e programas contraditórios. Entender-se-á a blogagem sobretudo como um direito à coexistência bizarra, insólita e feliz de diferenças na internet. Na blogosfera haverá paz de se retribuir as visitas ao blogs de cada um na devida temporalidade baiana que deve reger as coisas, sem pressa, sem culpa e sem cobrança. Ao visitar o blog alheio o blogueiro também temperará o natural desejo da recíproca com semelhante tranqüilidade."
"2. Todo blogueiro terá o direito de exercitar periodicamente o direito de dizer abobrinhas sobre assuntos que não entende, de tal forma que os blogs de futebol serão apoiados quando resolvam falar de música e os blogs de economia contarão com a compreensão geral quando decidam falar sobre a composição do vinho. Mais bobagem que certas revistas semanais blog nenhum conseguirá dizer."
Adorei o número 2! Por isso hoje tirei o pé da jaca e parei de ficar me censurando se quero escrever bobagens. O blog é só meu! Ainda que ninguém leia, tenho o registro de quase 10 anos da minha vida aqui. Então digo o que quiser, não só sobre viver na Noruega... Não me atreverei a escrever dezenas de linhas sobre coisas que não entendo, mas escrevo como as percebo, certo? E cheia de tempo nas mãos, vai ficar longo o negócio, então paro por aqui. Já misturei feijão preto com ostra mesmo!
E aí ao lado coloquei links para outros blogs, o da Luciana que eu já lia, mas não tão frequentemente como agora, e os outros dois que achei hoje!
Divirto-me!
Teste de tuberculose
Quando cheguei em Bodø há um mês e pouco atrás, nos primeiros dias já fomos à UDI - órgão do governo que cuida da imigração - pegar meu visto (obrigatório fazê-lo em até 7 dias da chegada) e já fui perguntando tudo - escola, teste de tuberculose, etc - que eu sabia que tinha que correr atrás, pois foram as coisas que tinha lido numa comunidade do Orkut e em blogs de moças que já moram aqui. Então o senhor agente de imigração que nos atendeu somente respondeu que eu receberia uma carta com a notificação do exame. A carta chegou exatamente um mês depois, me dando duas semanas de antecedência para o teste. Então Lars tinha pedido para a mãe dele me levar. Como ela está de repouso absoluto...
Lars pensou em pedir à cunhada, mas eu perguntei se era longe - porque se fosse seria mais complicado... Ainda não aprendi a me locomover de ônibus aqui, até porque daqui para o centro são 4 quadras, mais ou menos. E Bodø é uma cidade pequena, mas bem espalhada. Lars disse que era "mais ou menos" perto. E eu sempre digo à ele "Hello, esqueceu que sou paulistana?". Então pedi que me mostrasse, pois eu iria sozinha. Ele tutibeou, mas já estava mesmo na hora de eu começar a enfrentar situações cotidianas sozinhas. E afinal de contas, o que poderia dar errado? Já não me virei sozinha na Hungria, na República Tcheca, na Finlândia, na Alemanha , na Índia, falando apenas inglês? Então era hora de me virar aqui, de perder o medo de lidar com as pessoas - que na maioria fala inglês, mesmo que mal!
Ainda ontem, antes do Lars viajar, levamos jantar para a sogra (não sei se já mencionei, mas o apê dela é a uma quadra de nós), levei também sopa de legumes que eu tinha feito e congelado... E a sogra se espantou muito (um bom espanto) por eu ter decidido ir sozinha ao exame. Às vezes eles são superprotetores comigo...
Então lá fui eu... Logicamente, como tem que ter um senão, chovia legal... Botei minha jaquetinha de chuva, um gorro prá proteger a cabeça, e lá fui eu. São 10 minutinhos de caminhada, mas com a chuva, incomodou um tantinho, sabe? Prá ajudar, esqueci o celular em casa! Me dei conta quase lá. Pensei que se desse algo errado, não tinha nem como ligar pra Sylvia (concunhada)...
Cheguei lá já soltando o norueguês: "Bom dia, onde fica o setor de vacinação ?" , e com toda esta cara gringa, a moça já largou um superrápidonorueguêsexpresso pro meu lado. Segundos com olhos arregalados (eu acho), e respeirei e pensei um bocadinho, e respondi que eu não falava norueguês muito bem. Queria saber por que cargas d´água dá este pânico na hora de falar, sendo que eu sei falar o mínimo! Me sinto uma criança! Mas tudo bem, a mocinha me pediu pra esperar (eu estava adiantada).
Então depois de um tempo, entrou um rapaz alto, negro, bonitão, e logo atrás dele uma mulher usando o hijab, mas daqueles mais longos... Me causou um certo impacto a cena. O marido falava norueguês bem, pude ouvir. E a esposa ficou ali, parada, muda, e ainda por cima olhando prá mim! Não queria olhar muito pra que ela não achasse que eu tava encarando, sei lá... E não é que eu nunca tenha visto uma mulher de véu, mas realmente não estou acostumada com esta imagem. E no fim de semana tinha visto um documentário sobre 4 mulheres que tem um programa numa tv a cabo árabe, o Kalam Nawaem da MBC. Uma delas é palestina, a outra libanesa, uma saudita e outra egípcia. Elas falam de tabus (pro mundo árabe) como masturbação, homossexualismo, direitos da mulher, etc. Fiquei com isso na cabeça... Bom, o post é sobre o exame de tuberculose...
Então a médica me chamou... Muito simpática. Minha segunda visita ao médico, e ainda não vi nenhum usar avental! Tô acostumada a ver médicos nos seus consultórios (até nos navios) de avental... Então começou a conversa... Você prefere que eu fale inglês ou norueguês, ela perguntou em norueguês, e eu, querendo fazer piada, quebrar o gelo, disse que em inglês, pois em norueguês, nós ficaríamos alí até amanhã... Mas ela não riu! Então perguntou se eu sabia porque estava ali. Eu disse que sim. Ela perguntou se eu já havia sido vacinada contra tuberculose, disse que sim, no Brasil somos vacinados quando pequenos. Ela pediu para eu mostar a cicatriz, e comentou , ao vê-la, que era tão grande! Enfim, enquanto ela preparava a agulha, small talk... Ela começou dizendo que o teste era de praxe para todos os imigrantes recém-chegados, para tentar conter a propagação da doença. Contei a ela que a tuberculose estava erradicada no Brasil, até ano passado, quando votaram a parecer vários casos. Então (tava demorando) ela soltou um "Aqui na Noruega também, mas os casos registrados aqui foram em imigrantes da Somália ou Paquistão... Os noruegueses que contraíram a doença era velhinhos...". Tava demorando, quis dizer, o comentário com uma pontinha de intolerância... Mas depois ela ainda disse "Aqui fazemos este teste nas criaças por volta dos 13 anos, pois é com esta idade que vacinamos com BCG. Antes vacinávamos todos, agora já não... Acho que sai mais barato fazer este teste doque vacinar a todos...". Opa, peralá, coméquié que eu não ouvi direito? Não tenho nenhuma informação a rspeito do assunto, mas as campanhas de vacinação no Brasil não são bem sucedidas? Quando eu morava lá naquele fim-de-mundo de meu Deus, no Pantanalzão, vinha o povo da Secretaria de Saúde vacinar criança, adulto (rubéola, tétano), e até bicho? Nossos gatos escaparam e os agentes de saúde até deixaram duas vacinas conosco pra pegar os gatos mais tarde (foram necessárias 5 pessoas, um pra cada pata e um pra cabeça pra conseguir realizar a tarefa!)? Uai, se aqui é o primeiro mundo, cadê??? E depois são os somalianos que trazem a doença?
Não tô criticando não, mas houve uma dose de espantamento... Enfim...
Daí ela me pediu pra esticar bracinho, e lá veio agulhinha. Como ela explicou antes, fiquei preparada, mas tenho HOOOORRRROOOOOORRRRRR de agulha, não olho mesmo! Quando tomei vacina pra febre amarela, olhei prá agulha e desmaiei! Doei sangue uma vez, e quase desmaiei também... Então ela injetou um troço no braço que doeu feito picada de marimbondo - quem levou, sabe! A médica disse que tinha acabado, e olhei meu braço, ficou uma bolinha inchada e esbranquiçada. Coçou um tiquinho. Ela disse pra não coçar e não achatar a bolinha. Quinta-feira tenho que voltar pra fazer o controle, ou seja, ela vai medir inchaço e vermelhidão, e se achar necessário, me encaminha ao especialista pra fazer uma radiografia do tórax. A bolinha sumiu, não tá coçando e nem quase pode ser percebida, agora. Mas ela disse que terei uma reação, por causa da vacina.
Então, ela me dispensou, disse até quinta, e foi isso! Na volta pra casa, chovia mais, masainsa resolvi se mais corajosa e parei na vendinha Joker da esquina pra comprar umas cositas... Primeira comprita sem Lars! Comprei framboesas, chocolate e iogurte, passei no caixa, o homem falou comigo, eu acenei com a cabeça, estendi dinheiro, recebi o troco, e no final "Takk skal du ha", o muito obrigado de praxe... E saí... E NÃO DOEU NADA! Sei que parece pouco, mas foi bastante pra mim. Fiquei mais corajosa... Agora não é só cumprimentar vizinho durante as caminhadas, já posso fazer mais coisas....
Putz, tenho mais um montão de bobagem pra falar, mas fica pra depois... Tenho afazeres domésticos pra cuidar!
domingo, maio 24, 2009
Bacalhauzão
Aqui já estamos com 24 horas de luz. O sol desaparece no horizonte apenas para sair novamente alguns metros mais ao ladinho... Então fica muito fácil perder a noção de tempo - achamos que eram umas 6 da tarde, e eram 9 da noite. Tava friozinho, parecia que o tempo tava querendo mudar. Assistimos uma tvzinha e desmaiamos. O duro é com esta luz toda, a passarada não dorme a noite! Eles tiram umas sonecas, mas a piação na floresta se extende pela "noite" toda! E eu tenho uma dificuldade danada pra dormir. Se eu apagar, tudo bem. Mas se acordar de noite com sede ou para banheiro, tem sido duro voltar a dormir. Demora.... O sol brilhando, os passarinhos cantando... Mas espero acostumar logo! Aqui em casa o quarto tem percianas que escurecem bem, mas no chalé é pior. Enfim... Fica uma fotinho do nosso vizinho barulhento. A espécia em norueguês é Svartvhit Fluesnapper (pega-mosca preto e branco). Canta que é uma beleza, ainda mais agora, época de namoro de passarinhos!

Despertamos na sexta, - aniversário do Lars - tomamos café e descemos o morro. Primeiro fomos até a vila comprar salada de batata (industrializada, tenho horror, mas esta é uma delícia!) e um bolinho pro Lars, só prá não passar em branco. De lá fomos até a casa de barcos. Tava sol, mas um vento bem gelado. Lars me levou para conhecer uma praia mais ao norte no fjord, mais ou menos uma hora. Mas o vento tava bravo, e além disso estávamos mais perto do mar aberto, então as ondas estavam de bom tamanho. E o barco tava balançando bem. A praia é bem bonita, mas a temperatura ainda não permite nem aproximação! Não passa pela cabeça botar um traje de banho e deitar na areia com 10 graus e sensação térmica de 5 por causa do vento.

Temperei e assei dois peixes - a melhor sensação do mundo é comer o peixe que você pesca! Comemos bem, com salada de batata e salada de folhas. Algumas cervejas depois, decorei o bolinho do Lars com morangos, ele assoprou uma velinha, e ficamos na varanda até que começou a esfriar. É mais gostoso então sentar perto do aquecedor.
E lá fomos, batalhar pra achar algo na televisão, já que os canais via satélite ainda não tinham voltado apesar da reclamação. A tv NRK, a maior empresa de comunicação do país, tem 3 canais. Passam muito lixo, mas o canal NRK2 passa muitos documentários. Só neste feriado, na sexta vimos um sobre o Stephen Hawking (eita sujeito maravilhoso esse! Faz tempo que crio coragem pra ler "Uma breve história do tempo" mas acabo desistindo...), outro sobre o "Summer of Love" em São Francisco em 67 - os hippies de São Francisco, os Coquettes, maravilhoso - um sobre o Clint Eastwood e um sobre o (pasmem) Jader Barbalhos e o escândalo da Sudam! Sério mesmo... Então parei de ter preconceito contra a tv norueguesa, apesar dos reality show horrorosos que eles produzem (e olha que eu gosto de um reality, hein).
Sábado, o dia amanheceu cinzento, com um mormacinho. Imaginamos que lá embaixo no mar estaria frio, então nos previnimos. Vesti macacão de esqui (se chama bobledress), gorro, botina de neve, enfim, toda a parafernália. Lars idem. Chegando lá embaixo, não ventava tanto quanto ontem. Encontramos um vizinho retornando da pescaria, que deu dicas de um local cheio de peixe. Então saímos em direção ao sul desta vez. O mar estava mais calmo também. Lars pilotava os anzóis e eu manobrando o barco - pesca-se melhor com o barco em movimento. Demorou um pouco, mas dali a pouco, Lars puxava a linha e os 6 anzóis tinham peixe. A maioria pequeno demais, então devolvemos. Aí veio outro bacalhau alaranjado. Fiz Lars esticar o bicho pra foto. E aí vem a PAUSA DO BACALHAU
Depois de pesquisar a Internet a história do porque não se pesca bacalhau nos meses que não tem a letra R, apenas encontrei que isso é um mito antigo. O pai do Lars nasceu numa ilha não muito longe de Styrkesnes, e o avô do Lars era pescador. Então creio que o antigo mito foi passado de geração em geração. As fontes "seguríssimas" da Internet garantem que o bacalhau pode ser comido ao longo do ano. Porém, o mito tem uma relação com o sabor do bacalhau no verão, que pode mudar, pois literalmente os peixes têm ovas, e maior conteúdo de água no corpo. Então eles não são tão carnudos como no verão. Esta declaração é dada por um inspetor nacional de pesca... Entretanto, desta vez eu entendi porque o mito... O primeiro bacalhau que Lars tirou da água, pequeno, cheirava a merda, esgoto, lixão, sei lá... Quase vomitei... E tinha umacor bem peculiar alaranjada... O segundo não fedeu tanto, mas Lars cheirou a boca dele, e eu também... Merda de novo! Veja a foto

Não sei se pela foto dá prá perceber a diferença de coloração... Veja a ilustração do NY Times. Eu jamais ia querer comer algo que cheirasse daquele jeito! Então concluí que, se só no verão estes bacalhaus menores fedem assim, deve ter alguma relação com a cadeia alimentar no fjord no verão. Estes bacalhaus menores vivem mais próximos da superfície. Segundo Lars, nesta época do ano os bacalhaus adultos estão no Mar de Barents.

Até que Lars me grita para parar o barco porque ele pegou um grande. E puxa daqui, puxa dali, e pusta bacalhauzão saiu d´água. Peguei a câmara pra tirar foto. A âncora da linha de pesca fisgou o bicho pelo queixo. Ele provavelmente nem foi morder a isca, tava simplesmente nadando por ali quando de repente algo vem por baixo dele e o prende! Fico com dó (ainda) dos peixes quando a gente puxa eles da água e tira o anzol... Depois eles ficam se debatendo... Mas acho que depois acostuma. Então, olha só nosso bacalhau...


Lars disse que já pescou maiores! Mas o importante pra mim era saber que sim, era possível pegar um bom bacalhau na primavera. A explicação provável: este era um bacalhau de águas mais profundas...
Além disso, eu ainda peguei uma leva de sei e fomos prá casa com uns quase 10kg de peixe!

Em casa, Lars disse que quem sabia limpar bem o bacalhau era a mãe dele. Disse a ele 'Xá comigo!' Ele desconfiou no início, mas disse a ele "Estudei para ser Chef prá que? Meu diploma ia servir pra algo um dia!" Meus professores do Senac iam ficar orgulhosos de mim, especialmente o Oscar Izumi, de Cozinha Japonesa. Aprendi horrores, e ali, numa mesa improvisada e com três facas cegas consegui fazer dois belos filés de bacalhau com uns 1,5 kg cada!

E depois de tanto trabalho, e de trocar de roupa, terminamos o dia com um churrasquinho de alce, vinho, depois um irish coffe...

E o bolo improvisado do Lars...

Ah, e iniciei Lars às delícias de True Blood. Ainda bem que ele gostou! Agora precisamos assinar o canal que exibirá a segunda temporada!
Volto em breve, pois amanhã irei ao Helsesenter de Bodø fazer o exame de tuberculose obrigatório para imigrantes, conforme cartinha que recebemos há duas semanas! Vou sozinha!